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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Barganha

Boa tarde!

Boa tarde! Como estás?

Vou bem, meu senhor, obrigado. Então, o que desejas?

Aquilo, da marca de sempre.

Aquilo? Tens certeza?

Sim, aquilo.

Só tem um problema: o de sempre se esgotou, sabe como é...

Não , não sei. Por que cargas d'água acabou aquilo?

Aquilo não acabou, senhor.

Mas não foi o que você acabou de me dizer?

Não. Apenas disse que não tinha aquilo de sempre. Mas tem esse lançamento...

Lançamento!? Essa marca é mais velha que eu, e nunca foi confiável. Tá gozando com minha cara, é? Olha que me queixo com seu gerente, hein!

Desculpe, senhor! Não imaginava que fosse ofendê-lo e...

Mas o fez! Me empurrar porcaria, ora veja...

O que se passa aqui?

Ah, Dorinha, enfim viestes...

Olá, "seu" Olavo, há quanto tempo! Como vai sua pessoa?

Vinha bem, até que este borrabotas me disse que não tinha aquilo.

Aquilo?

Aquilo!

Tens certeza, "seu" Olavo?

Porra, Dorinha, até tu estás a tirar-me?

Desculpe-me, não foi a intenção...

"Desculpe-me"... "Desculpe-me"... Isso é discurso treinado de vocês, é? Fazem-nos de gato e sapato e depois vem nos pedir desculpas... Francamente... Não sei porque ainda venho aqui...

Porque o senhor confia na gente.

Confio nada. Por que só tem vocês aqui na região que vendam aquilo daquela marca, e fazem isso comigo... Eu, que sempre fui um cliente correto...

Não chore, "seu" Olavo, não chore...

Não me toque! Não me toque!

Mas "seu" Olavo, eu...

Já falei, não me toque!

"Não me toque"... "Não me toque"...

Quieto, Antonio, não piore as coisas.

Bah!

Vai atender àquela senhora ali, vai!

Por que comigo, meu Deus? Por quê?

Calma, "seu" Olavo, calma...

Dona Dora, estão te chamando lá dentro no estoque.

No estoque?

Mais especificamente, no carga e descarga.

O que será? Fique aqui com seu Olavo que já volto.

Essa é boa... Agora virei babá de velho!

Minutos depois...

"Seu" Olavo, resolveremos seu problema!

Chegou aquilo?

Acabou de chegar. Vai querer quantos?

Quanto custa cada um?

Vinte e cinco.

Tá bom, obrigado. Depois eu passo aqui pra comprar!

Mas o senhor não ia levar agora?

Não, só queria saber se tinha. Obrigado pela informação!

E os funcionários, em uníssono:

FILDAPU!!!!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Arrependimentos

(Escrito em 13/01/2010)

Existem momentos na vida em que sempre nos arrependemos de coisas que fazemos e/ou dizemos. O momento em que escrevo é um desses. E olha que já tive muitos desses momentos, apesar da minha pouca idade. Mas o estado em que me encontro agora foi o responsável por essa vontade súbita (pois há muito não a tenho) de escrever.
Certa hora parei sentado na porta de casa. Fiquei olhando para o nada, pensando em muitas das escolhas que fiz na vida. Não em escolhas comuns, banais; mas em escolhas que, por exemplo, acabaram por definir meu caráter atual. Fiquei, por alguns minutos, imaginando como seria minha vida se algumas dessas escolhas fosem contrárias. Na verdade, tentei imaginar. Como seria minha vida se, ao invés do bom filho, eu fosse um bandido, traficante "filho-da-puta"; se, em favor do estudo, tivesse trabalhado cedo; se tivesse continuado no emprego que eu detestava e deixasse de mão a conclusão da minha faculdade de Letras, sem certeza de garantia empregatícia; se fosse pegador e mau caráter completo ao invés do amigo parceiro e sujeito pacato que me tornei; se fosse bandido ao invés desse escritor deprimido (emo não, pelamordedeus!).
Naquele momento eu me arrependia de tudo o que consegui de bom: meus amigos, os reais, os telefônicos e os virtuais; o carinho da minha família, o sonho realizado de cursar, e concluir, a faculdade... E não a toa ponho o verbo no passado. Porque, enquanto escrevi este texto até o parágrafo anterior, ainda me arrependia. Mas quando matei a saudade de escrever com gosto, a cabeça descarregou os pensamentos ruins, ao menos por ora. Não valia, e nem vale, a pena mantê-los.
E pensar que me arrependi de muito o que consegui na vida por pura raiva, ao não conseguir tirar um cochilo vespertino em casa...

domingo, 29 de novembro de 2009

Caso de cremação

Seu Felisberto já estava com 89 anos e à beira da morte. A família já estava angustiada com o estado do velho, ”vai, não vai”, quando o moribundo começa a arfar, querendo dizer alguma coisa:

- Fale, vovô!

- Eu... eu... eu...

- Sim, vovô, fale!

- Quero... s... ser... cre... m... ma... do...

- Não fale isso, papai, o senhor vai viver muito ainda!

- Nã... nã... não...

E voltou a seu estado de quase morte. Quando o filho e a neta foram dar a notícia para os demais familiares, todos se levantaram apreensivos. Quando o filho disse que o pai pedira a cremação de seu corpo, a mãe quase caiu para trás, tamanho era seu espanto.

- Ele sempre foi muito vaidoso, por que isso agora?

- Não sabemos, mamãe. Também não entendi, mas essa é a vontade dele.

O pedido de cremação era incomum, pois Felisberto sempre se gabou do cuidado que tinha consigo mesmo. A mulher admirava-o por não fazer o tipo de machão viril, que não se cuida. Quando o conheceu, numa gafieira, ela viu aquele deus de branco que convidou-a para dançar. Quando notou que esse mesmo deus tinha um bom porte físico, cabelos bem penteados e bigode arrumado e bem aparado, acreditou ter encontrado sua alma gêmea. A convivência diária confirmava isso, com ela por vezes suspeitando da masculinidade dele tamanho era o cuidado que tinha. Por esses motivos era inconcebível imaginar a situação. Só de imaginá-la, a pobre senhora caiu em prantos, sendo amparada pelos filhos.

Os filhos eram outros que não acreditavam no pedido do pai. O cuidado com a aparência era herança deixada pelo pai. Tanto que, em demasia, um deles virou homossexual. Otávio, o mais velho, que recebeu a notícia do pai, era quem mais lembrava o pai na aparência e no cuidado. Era também o mais incrédulo dos três. Assim como a mãe custava a acreditar, ele tentava entender o porquê da situação. Miguel, o filho do meio, dava tanta importância aos ensinamentos do pai que trabalhava com estética masculina. João, o caçula homossexual, estava mais tranquilo que os outros. O que preocupou Otávio, que achava que ele tinha algo a ver com aquilo.

- Tenho tanto quanto você, Miguel ou mamãe. Por que essa caça às bruxas agora?

- Esse seu ar tranquilo deixa dúvidas. Acho que você tem algo a ver com isso.

Parecia que Otávio estava certo, mas João não dava o braço a torcer. Foi quando Miguel lembrou de uma conversa que o pai tivera com ele e João, quando eram adolescentes. Perguntando ao pai o porquê daquele cuidado todo, Miguel se lembrou que o pai disse que, “enquanto vivos, nós devemos levantar nossa autoestima ao máximo.” E quando João perguntou sobre a ocasião da morte, o pai dissera que “a beleza deveria acabar quando morremos. Uma vez mortos, já era todo o investimento que fazemos em nós.” Pelas palavras do pai, era previsível saber que ele queria ser cremado. Mas a mãe custava a acreditar naquilo, e ainda chorava mais.

Depois de alguns minutos, o médico saiu do quarto, comunicando o falecimento de Felisberto. A família inteira chorava diante do dilema causado pelo último pedido do morto, confirmado pelo médico. Em meio às lágrimas de todos, a mãe confirmou a realização da vontade dele.

No dia seguinte, no velório do corpo, Miguel e João conversavam sobre a antiga conversa do pai com eles. E se perguntavam, tentando entender o porquê do pai não deixar que brigassem fisicamente, que jogassem futebol ou qualquer outro esporte de contato físico (o que Miguel fazia escondido), ou se relacionassem com pessoas de outra cor de pele ou credo. Ouvindo a conversa, a mãe disse-lhes que o pai não gostava de tais coisas, mas que ela era contra, pois sabia que ele o fazia às escondidas. Ambos se sentiram perdoados, ainda que não pelo pai. Otávio apareceu nessa hora para avisar da cremação do corpo. O corpo bem cuidado, que se estragaria no forno.

Desse episódio, ficou a lição de que um dia todos vamos morrer. Se cuidar enquanto vivo é válido. O que não é, é viver em função disso. Com essa, arranquei algumas lágrimas na mesa do bar. Meu comparsas, para variar, afogaram as lágrimas na cerveja.
Quanto ao corpo, bem... segundo soube, as cinzas estão sobre a lareira, para lembrar a todos daquela família da lição deixada pelo pai.

Gatos por Lebres

Havia numa cidadezinha do interior do estado um padre que era querido por todos. Mas o que esse padre tinha de amoroso, ele tinha de brigão. Era um padre fora do comum. Para ele, a passagem bíblica que diz que, ao apanhar, ofereça a outra face para bater, não era seguida nem um pouco à risca. As beatas tentavam demovê-lo de que isso ia de encontro aos preceitos bíblicos, mas entrava por um ouvido e saía pelo outro. Devido essa fama, ele era uma espécie de autoridade na cidade. Com ele ninguém podia. Até que um pistoleiro muito afamado mandou seus asseclas comunicarem que estava chegando na cidade para revolucionar a vida local. O padre, que até então estava jogando conversa fora no bar, chamou-os e avisou.

- Diga a seu chefe que essa cidade já tem dono.

- O senhor padre dizendo isso? Olha que ele pode lhe dar a extrema unção antes que o senhor diga amém. – O capanga riu.

- Pois diga-lhe que venha, que aqui ele terá quem o enfrente.

Padre José (assim se chamava) voltou a conversar com o pessoal do bar, que não acreditava no que o padre acabara de fazer. Eles sabiam a serviço de quem eles estavam, e logo se preocupavam com audácia do padre. Tinham conhecimento de que esse pistoleiro era sujo, e tinha o hábito de atacar seus oponentes à noite, quando tudo estava tranquilo. Diante da situação, o padre não mudou sua opinião.

- Ele que venha. Sou homem tanto quanto ele. Não tenho motivo algum para temê-lo.

Depois do que disse, se dirigiu para a igreja, pois a hora da missa das seis se aproximava. Os peões que estavam no bar foram convidados a seguí-lo, o que prontamente foi atendido. Até porque, se não fosse, muitos estariam bebendo com dores no estômago, fruto do potente soco do padre. O interessante é que, de medo, o próprio dono do bar integrou a procissão, deixando o estabelecimento à deriva.

Dentro em pouco o padre já havia vestido a batina para a missa. Quando começaria a rezar a missa na igrejinha lotada, um mendigo apareceu na porta, de pé, com seus trapos imundos, causando repulsa nos outros que estavam acompanhando a cena.

- Cum licença, seu padre, mai eu quiria sabê si eu posso assistí a missa com vóismicês?

- Meu filho, a casa de Deus está aberta a todos. Só não temos, infelizmente, um lugar para você sentar. Mas pode se achegar, e seja bem-vindo a nossa humilde igreja.

Ao dizer aquelas palavras, a igreja ficou com um clima hostil para com o pobre mendigo, que percebeu o clima formado, até que o padre deu um berro para pedir silêncio na igreja, pois estava rezando a missa.

Acabada a missa, as portas foram repentinamente fechadas. Como toda a cidade estava dentro da igreja, assistindo à missa, todos se preocuparam com aquilo. Quando do lado de fora se ouvia que o fim da cidade estava chegando. Os homens que estavam no bar lembraram do que havia ocorrido momentos antes da missa. Nesse momento, o mendigo caminhou até o altar e entregou um bilhete ao padre. Ele leu e disse a todos na igreja que se acalmassem, pois o grande momento chegara. O pistoleiro e seus capangas estavam na porta, à sua espera, para o acerto de contas. Saiu pela porta da sacristia, enquanto de fora, o arauto do pistoleiro gritava:

- Onde está o padre que desafiou meu chefe? Será que ele deixou seus culhões no bar? – e todos do bando caíram na risada. Quando o padre apareceu na lateral da igreja, o falante empalideceu.

- Que vossa senhoria falava a meu respeito?

- Meu chefe está louco para comer as suas vísceras no jantar.

- Ele que tente. Onde está? Vá chamá-lo.

O arauto fugiu do padre como o diabo da cruz. De repente, aparece um homem de um metro e cinquenta, segurando todo o tipo de armas que sua mão podia segurar. Quando levantou o chapéu, o imenso rabo de cavalo permitiu ao padre reconhecer o temido pistoleiro.

- Isabela? Você é que é o grande pistoleiro do sertão?

- Isabela é o caralho, padre de merda. Sou o Tonhão dos Sete Palmos. Quem você pensa que é...

O pistoleiro (ou seria a pistoleira) levantou a cabeça e, para surpresa geral, havia reconhecido o padre, muito efusivamente.

- Joana! Que mudança, menina!

- Joana, não, minha cara. Mais respeito comigo. Sou o padre José.

E continuaram a conversar nesse tom de intimidade que ambos aparentavam já ter, para espanto dos cidadãos, que arrombaram a porta da igreja, e dos capangas dela, que estavam embasbacados com a situação. Ninguém naquele momento acreditava que o padre valentão foi, no passado, uma bicha, nem que o temido pistoleiro era na verdade uma mulher.

Não sei o que aconteceu depois disso, mas me lembro de que, quando contei essa história para meus comparsas de bar, eles não acreditaram. Como poderia uma bicha virar padre e uma mulher se tornar um temido pistoleiro? Diante da pergunta, só me restou dizer que, para variar, são coisas que só acontecem no Brasil.

domingo, 11 de outubro de 2009

Dois pesos, uma medida

Era uma tarde muito agradável e Estácio avisou à família que sairia para comprar cigarros. Só não contava encontrar a turma da pelada matinal por lá. Assim que Estácio entrou no bar, Lourival tratou logo de chamá-lo.

- Estácio, meu amigo! Há quanto tempo! O que está acontecendo com você, não vai mais pras peladas...

- É, realmente, muito tempo... Só que casei. Se lembra da Alzirinha?

- Alzirinha? Aquela que no colégio ficou com o Mateus, o Zé Pinguela, o Antoninho...
- ...E com o Paulo, o Mangaba e o Tadeu. A mesma. Pois é, dei em cima, cheguei
junto e pimba! Bola sete na caçapa do meio.

- Mas como é que se deu isso?

- É o seguinte: sabe aquele forró que tinha lá perto de casa? Então, descobri que ela ia pra lá? Num belo dia, eu tava só, ela também, e chamei ela pra dançar. Ela topou, joguei um papo e... aí já viu, né?

- E o que é que rolou?

- Assumimos um rolo sério, eu com ela, tudo direitinho. O tempo foi passando, fizemos nossa casinha e juntamos nossos trapos.

- Pô, beleza! Mas o que rolou que tu sumiu lá da pelada? Vai me dizer que ela...

- É isso mesmo. Ela barrou! E tem mais: se ela descobrir, eu tô frito!

- Vamos deixar isso pra lá! Puxe uma cadeira e sente aqui com a gente. Garçom, mais um copo!

Ele queria fugir mas não conseguira. Lourival e os outros, que estavam à mesa, convenceram-no a ficar. Papo vai, papovem, eis que aparece Juninho, o filho caçula de Estácio, com mais três crianças (os filhos de Lourival).Sabendo que Juninho era o mais fofoqueiro de seus três filhos. Estácio começou a tremer. Seus amigos estranharam, principalmente Lourival.

- Que que foi, Estácio? Parece que viu assombração!

- Tá vendo aqueles três garotos vindo pra cá?

- Sim, são meus filhos com o Tacinho, o colega deles.

- Pois é, Tacinho é meu filho. Aliás, o mais caguete deles.

- Que isso! Ele é um excelente garoto, show de bola!

- Mas tem a língua solta que só.

- Tá bom... Mas porque o medo?

- Lourival, ‘cê ainda não viu que o Tácio tá com medo da Alzirinha? Se o moleque é o maior caguete, é claro que ele vai bater pra mãe! – ressaltou Antoninho, até então quieto.

Estácio teimava em negar, mas estava nítido que era medo de Juninho (ou Tacinho, como queiram) descobrí-lo ali. Medo concreto, aparente, de quem é submisso da mulher. Seus amigos zombavam, pois Estácio, na época do colégio, era o mais assediado do grupo. Segundo contam, tinha até um certo charme, mas não era um Don Juan.

- Que foi que aconteceu com o galã do Assaré? Virou cachorrinho de madama, é? – zombava Zé Pinguela.

- Que nada! Alzira virou a “peã boiadeira” e laçou o touro bravo. Aproveitou pra castrar ele e fazer dele um boi. Tadinho dele! – Antoninho voltou a zombar
E o nosso herói lá, calado na dele. Até que surge um menininho por trás de Antoninho, cutucando-o.

- Paiê, a mãe perguntou cadê o refri do almoço que o senhor falou que ia levar e até agora não apareceu?

- Manda ela pro raio que o parta, Gabriel, pô! Você não tá vendo que eu tô aqui conversando com o pessoal?

- Que que eu falo pra ela então?

- E então, Antônio, que que você fala pra sua mulher? Diz pro garoto! – desafiava Estácio.

- Deixa quieto! Fala que já tô indo!

A gargalhada foi geral. Antoninho, que tanto pregara a superioridade masculina, era um “pau-mandado” de sua esposa. Retirou-se da mesa e foi ao encontro de sua mulher. Logo depois Gabriel volta com um recado de Antoninho:

- O pai pediu pra avisar que não vai dar pra ele voltar não.

- Por quê? Tua mãe tá batendo muito nele? – perguntou Lourival.

- Inda não, mas tá falando pra caramba!!

Nova gargalhada na mesa do bar. Envolto na gargalhada e na conversa, Estácio nem percebe a aproximação de Juninho, que o cutuca por trás.

- Ué, pai, o senhor não disse que ia comprar o cigarro?

- E agora, Tácio, como é que você fica? – zomba Lourival, que não percebe que Dinorá, sua esposa, que chega por trás dele e berra:

- LÔ-RI-VAL!!!! Que que tu tá fazendo aqui, traste? Tu não ia comprar o cano pra consertar o encanamento da cozinha?

- Hein?! Que que você dizia, Lourival? – zombava Estácio.

- Psiu... Cala a boca! – sussurrava Lourival.

- Então, Lourival, vai me responder ou não?

- Dinorazinha...

- Dinorazinha é o cacete! Vambora agora! – e desceu o rolo de macarrão no pobre do Lourival. Estácio só ria da situação.

- E agora que vai me chamar de cagão, de “pau-mandado” de mulher? Todos nessa mesa tem um pé atrás quando se fala de mulher.

E a mesa aquietou-se, com a conversa tomando outros rumos. Desde aquele dia, ninguém se atreveu a discutir as atitudes familiares de cada em e nem zombar do outro por isso. Era permitido discutir de tudo, de política a futebol, menos de mulheres e família.

Antes que eu me esqueça, a alegria do nosso herói durou pouquíssimo. O filho realmente dedurou-o para a mãe, que foi buscá-lo no bar e levou-o debaixo de porrada. Mas naquela hora ninguem zombou, pois aconteceu com todos que lá estavam. Alguns revidaram, e foram denunciados por agressão às sua mulheres. Hoje, eles estão em cana.