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sábado, 18 de abril de 2009

A Aposta

Este foi não foi um caso que tive de investigar. Mas era engraçado como me contaram, por isso eu relatarei entre minhas histórias. Isso aconteceu com meu amigo Alípio.

Ele chegou em casa ofegante. A mulher estranhou, pois, até onde sabia, o marido não devia nada a ninguén, nem se envolvia com bandidagem ou jogatina. Maior ainda foi o espanto dela quando quase botaram a porta da sala abaixo, gritando:

-Sai daí, Alípio!

-Honra tua palavra, sacana!

-Mete a cara na rua, babaca!

A mulher continuava sem entender nada. Ele sentou-se no sofá, respirando fundo, tentando pegar fôlego. Quando recobrou a consciência a mulher exigiu explicações. quando Alípio explicou que o motivo de tanto frenesi era uma aposta que ele perdera, ela continuava sem entender aquela algazarra. Quando Junior, o filho, entrou em casa, pela porta dos fundos, logo perguntou aos pais o que estava acontecendo. A mãe respondeu que também queria saber. Mas Junior sabia da aposta e, quando soube que o pai a perdeu, desatou a rir na cara dele. Revoltado com o deboche do filho, Alípio avançou contra ele mas Matilde entrou na frente, mandando o garoto para o quarto.

-Deixe o garoto em paz e me diga que raio de aposta é essa!

-Não falo porque não vou pagar!

-Foda-se se você vai ou não pagar!Eu quero é saber que raio de aposta é esta?

Quando Alípio enfim contou, Matilde caiu na gargalhada. Ela não acreditava na aposta que ele havia feito.

-Mas por que você fez isso? Não sabia que a chance de você ganhar era quase nula, estrupício?

-Mas eu acreditei! Perdi, mas não vou pagar!

-Logo você, velho, que sempre cobra dos outros, não quer pagar a aposta!?-Junior descia a escada com uma câmera na mão.

-Você não vai fazer isso, moleque!

-Vou e você vai ter que pagar essa aposta!Se for preciso chamar o pessoal do bar, eu chamarei! Você não dá lição de moral em todo mundo quando você ganha?Agora saiba perder, meu velho!

Neste momento entra na sala o Matias, irmão mais novo de Alípio, também pela porta dos fundos. Aos risos, pergunta ao irmão o que ele vai esperar para pagar a aposta. Quando Junior e Matilde contaram-lhe do que Alípio queria fazer, ele engroussou o coro.

- Você sabia do risco. Agora paga!

-Não pago! Se eu ganhasse, ninguém iria pagar!

-Mas faria pressão pra pagar!

-Já te mandei calar a boca, moleque!

-Que que é isso, Alípio! Bater no menino por causa de besteira sua, não aceito!Agora paga a porra dessa aposta antes que eu chame todo mundo aqui pra dentro!

Acuado, ele não encontrou outra solução. Respirou fundo, antes de encarar a multidão que o esperava no quintal. Quando pôs a cara para fora de casa, ecoaram "vivas" e "até-que-enfins".

-E então, vai pagar ou não?

-Vou pagar!- os "vivas" soaram novamente -Mas eu preciso me preparar psicologicamente pra isso!

-Quê!?Você não dá brecha quando ganha, agora quer ter brecha?! Faça-nos o favor!

A multidão exigiu o cumprimento imediato da aposta. Sem saída, vendo que o sádico do filho trazia a câmera e a mulher ameaçava-o, decidiu sair para cumprir a aposta.

Quando Alípio saiu, a multidão ficou em polvorosa. Todos perguntaram se ele iria cumprir. Cabisbaixo, ele respondeu que sim. Voltou para dentro da casa, se vestiu adequadamente para cumprir a aposta. Quando saiu, foi uma gargalhada geral. O perdedor estava revoltado com aquela aposta. Mas, se ele cobrava quando vencia, tinha de cumprir quando perdeu. Os amigos improvisaram uma bandinha, que tocava uma música que, segundo eles, era para a posta ficar completa.

-Agora você tem que dançar a música.

-Isso não tava na aposta!

-Estava sim!Agora dance!

Quase chorando, ele dançou, para delírio do povão. Depois que acabou a música, a galera pediu bis, mas não foi atendida.

- Vão cuidar de suas vidas! Já cumpri a aposta, agora chega! Essa vergonha não passo mais!

Depois daquilo, tudo voltou ao normal no bairro. Exceto na casa de Alípio, onde a foto que o filho tirou decorava a mesa de telefone da sala. E, a cada vez que ele se lembrava daquilo, a vontade de bater nele era grande. Mas segurava. Afinal, nada do que fizesse agora adiantaria, nem mesmo rasgar a fotografia. O que estava feito ninguém iria esquecer.

Quanto à aposta, pergunte a quem viu. Eles saberão te responder melhor que eu. afinal, eles foram testemunhas. Eu só ouvi falar.