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domingo, 21 de dezembro de 2008

Who am I?(3 - O meu irmão confusão)

Minha mãe era uma pessoa 'abençoada'. Primeiro, ela se casou com o traste do Zé Carlos. E quando pensou que, ao se livrar para sempre daquele encosto na sua vida, juntando escovas de dentes, trapos e otras cositas más, nasce meu irmão Joaquim Miguel. Minha pobre mãe fez questão de batizá-lo na Igreja Católica com nome de anjo, naquilo que se pode chamar de grande heresia cometida por ela. Nem tanto por culpa dela, mas pelo que o garoto viria a se tornar.
Quando meu irmão nasceu, tinha eu já meus 9 anos de idade. Nascido em maio de 68, tinha tudo pra se acertar na vida. Mamãe arrumou-lhe padrinhos ricos, enquanto eu ralava de engraxate no Centro de Niterói, pra buscar, quem sabe, um futuro pra mim. Logo, tinha tudo pra ser um vencedor. Ah, mamãe, como eu queria que estivesses aqui agora! Eu estabilizado, enquanto ele...
Ele desde pequeno foi um 'boa vida'. Mas isso não foi motivo para deixar de ser um capeta. Entendem agora o porquê de ser uma heresia? Nome de anjos, alma de capeta. O que mamãe e seu Marcos punham de bom em casa, o moleque destruía. No começo, eles até achavam engraçado, ah que bonitinho!, mas o tempo foi passando e ele perdendo a graça. Demoraram a perceber o monstro mimado que estava sendo criado naquele casebre. Por isso mesmo acordaram com os padrinhos para mandá-lo a um colégio interno. Só que os padrinhos dele estavam envolvidos com a oposição do regime e foram exilados. E no dia do embarque, o capeta fugiu e, quando corremos atrás dele, disse aos guardas que éramos comunistas, que devoravam criancinhas, e que queríamos comê-lo. Ou seja, meu debut numa delegacia foi graças aquele merdinha. E isso tudo com apenas 6 anos de idade.
Quando chegou aos dez, e eu aos vinte, sem conviver com aquela pecinha que fazia lembrar meu pai, diziam os vizinhos, quando eu ia visitar mamãe, que ele faltava pouco para virar um dos maiores bandidos da região. Achava aquilo um exagero. Sabia que ele era um capeta, mas não achava que chegaria a tanto. Quando vi ele metendo a mão na bolsa da mãe e desrespeitando ao pai dele é que me caiu a ficha. Dei uma prensa no moleque. Joguei-o contra a parede e o fiz por tudo de volta onde estava.
"Que porra é essa? Essa é a educação que seus padrinhos te deram?"
"Eles não tem nada a ver com isso não. Faço isso porque gosto, me sinto bem."
Ou seja, ele não se emendaria. Para ajudar, quando tinha eu 25, mamãe e seu Marcos voltaram pra Mangueira, tendo eu, desde então, pouca ou nenhuma notícia deles depois daquilo. Já trabalhava na Polícia Militar quando vi meu irmão, pela última vez. Teve uma troca de tiros entre a PM e a bandidagem que começava a se formar no morro. Pegaram seis, entre eles Quinzinho (como ele era conhecido naquele meio). Pedi ao soldado pra falar com ele, mas ele se recusou. O soldado deu-lhe uma porrada na boca do estômago e obrigou-o a falar. Mas, depois daquela cena, deixei pra lá. Afinal, ele nada queria falar comigo. Não seria eu que o obrigaria. Depois daquilo não tive mais como encarar minha mãe, nem seu Marcos.
Soube que ele pegou uma grande pena por associação ao crime e que ele pretende se regenerar. Falam-me que até entrou pra uma igreja evangélica, chegando a ser pastor. Que tenha boa sorte na sua empreitada e me deixe em paz, como sempre.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Who am I?(2-Minha mãe e meu padrasto)

Falei muito de meu pai anteriormente, mas você quer saber mesmo é de minha mãe. Pois bem, digo-lhe que ela é um anjo de candura, ao menos se comparada àquele pilantra. Mas ela também não era flor que se cheirasse.

Nascida num morro carioca, acho que em Mangueira, ela era, segundo vovó Maria, uma bela mulata. Se existisse escola de samba como hoje, naquela época, com certeza ela seria uma das passistas principais. E era essa negra de tirar o chapéu, como diz meu chapa Fidel, que espantou meu velho pilantra. Logo, cruzaram-se os olhares e, à primeira vista, se apaixonaram. Vovó, que naquela roda de samba mandava ver, já não simpatizou naquele momento, quando ele foi pedir a mão de mamãe para ela e para o vô Camilo. Mas, aos trancos e barrancos, casaram-se.

Minha mãe ficava uma fera com a vida a dois que levavam. Já não bastava ele ter tirado ela da convivência dos pais, tinha que levar pra morar em São Gonçalo! Tão longe da terra querida que a viu nascer! Ali já começava os embates entre eles. Isso, quem me falou foram os vizinhos e os amigos dele, que não saíam lá de casa. Mas essas brigas sempre acabavam na cama, até que mamãe engravidou e, após nove meses, nasci. Mas o que ela passou com aquele traste só ela e Deus sabem. Ele bebia, jogava, chegava tarde em casa... E mamãe jogada num canto, até que seu Marcos começou a ampará-la. Sim, era de seu Marcos que meu pai tinha ciúme, e era ele que meu pai achava que era meu verdadeiro pai. Pensando bem, tenho muito dele. Será que é verdade?

Cansada desses vacilos de meu pai (o real, não o suspeito) mamãe já estava doida pra meter o pé na bunda dele quando ele chegou em casa com minha certidão e inventando aquela história do cartório. Ali, segundo seu Marcos, mamãe quase morreu do coração. Logo ela, que tinha uma saúde de ferro? Estranho, muito estranho...Desde então seu Marcos se alojou lá em casa. A ele é que realmente tenho como meu pai.

Naqueles tempos difíceis de nossa convivência, seu Marcos segurou as pontas de casa e nos sustentou. Não demorou muito pra que eu ganhasse um irmão, Joaquim Miguel. Seu Marcos, assim como meu pai, gostava dos nomes estranhos, e queria chamar meu irmão de Juscélio Marcolino. Mamãe logo vetou.

"Juscélio Marcolino é um nome tão lindo, Teresa. Por que não ser este?"

"Por que não botar um nome de anjo no menino?"

"Nome de anjo?"

"É! Assim ele estará sob a benção de Deus. E, assim como aos anjos, abençoará a quem cruzar seu caminho."

"Tudo bem, me convenceu. Mas qual nome?"

"Já que você gosta tanto dos nomes compostos, que tal Joaquim Miguel?"

"Tá certo. Gostei do nome."

E assim, acordadas as partes, estava decidido. O nome de meu irmão foi definido em consenso. Por que o meu não foi assim...

Assim era mamãe. Apegada à sua religiosidade, mas brava toda vida. E nunca mais tivemos problemas. Nunca mais, não. Tivemos vários outros problemas, mas essas serão outras histórias.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Who am I?(1- Meu pai e meu nome)

Andaram me perguntando quem eu era, porque vim dar (no bom sentido, diga-se de passagem) aqui no mundo virtual e porque me entitulo como Agente 85. Pois bem, senhor Abelhudo, explique-se aos curiosos. Senhor Abelhudo (assim mesmo, com maiúscula) é quem vos fala, ou seja, não se ofenda por merda pouca. Prazer, enxerido, me chamo João Carlos Bravo Abelhudo Brasileiro. Brasileiro,sim. Afinal, quantos de nós, brasileiros, não se mete na vida alheia? E olha que conheço muitos (e muitas) que são assim. Mas, deixemos de palhaçada e vamos ao que lhes interessa.

Numa noite chuvosa de 1958, precisamente na véspera da decisão da Copa da Suécia (aquela que fez Pelé surgir pro mundo), num barraco nalgum canto de São Gonçalo, que não me lembro qual, pois morei em todos, dona Maria Aguiar Ferreira e o senhor José Carlos Bravo Ferreira receberam a tão esperada visita da cegonha. Foi nesse dia que nasci, só não me perguntem a data que nem eu mesmo sei. 'Ora bolas', você deve estar a se perguntar, 'se os sobrenome de seus pais são Aguiar Ferreira e Bravo Ferreira, porque estes não são os seus?' Por puro capricho e sacanagem de meu velho. Dele sim, pois se não fosse ele, eu me chamaria Carlos Augusto Bravo Ferreira (ou Aguiar Ferreira). Mas como minha mãe estava acamada, e ele suspeitava que era corno, decidiu descontar em mim, triste rebento de sua puta.

No dia útil seguinte ao meu nascimento, como era de praxe, o crápula do meu pai tinha que me registrar. Ou ele o fazia, ou minha mãe escorraçava ele de casa. Mas, encarregado de tão ingrata missão, ele decidiu me sacanear. A chegar no cartório de nossa região (Porra, pára de me fazer perguntas estúpidas! Você quer saber demais! Que importância tem pra história saber o cartório em que nasci?), o biltre, ao ser atendido pelo oficial do cartório, realizou o seu intento:

"Qual é o nome que queres dar pro seu filho?"

"Não sei...Alguma sugestão?"

"Não tenho tempo para gracejos, meu senhor. Qual o nome da criança?"

"Hum, vamos ver... João, em homenagem às vítimas do Garrincha; Carlos, pra minha mulher não me encher; Bravo, que é meu sobrenome..."

"Acabou?"

"Não, tem mais dois sobrenomes: Abelhudo, em homenagem à minha sogra; e Brasileiro, pois brasileiros todos somos. Taí: João Carlos Bravo Abelhudo Brasileiro. Esse é o nome."

Ao chegar em casa e olhar minha certidão, minha mãe ficou muito puta (no sentido chulo da coisa, não no literal. Apenas o crápula alegava isso.) e faltou pouco pra não matar ele de porrada. Mas ela, como uma boa mulher suburbana, deu uma chance dele se explicar o porquê dele ter feito aquilo. Quando ele contou a história, ela deixou seu repouso de lado e foi, com o crápula do meu pai a tiracolo de volta pro cartório. Quando lá chegaram, perguntou ao oficial se estava em tempo de reverter aquela situação. Ao ouvir sua resposta negativa, ela deu-lhe um tempo para ele ir até sua casa, retirasse seus pertences e nunca mais voltasse. Ele, que se cagava de medo dela, não pensou duas vezes e obedeceu, pianinho. Mas antes de sair, ouviu-a dizer:

"Que você desconfie de mim, até aceito. Que pense que o filho não é seu, já me revolta. Agora sacanear com o nome do garoto foi a gota d'água!"

"Que que tem de mais em sacanear no nome dele? Ele nunca vai ser ninguém na vida mesmo..."

Filho-da-puta! Que morra no mármore do inferno! Mas bendita seja minha mãe, que proferiu as seguintes palavras:

"Será ninguém se você o motivar a ser ninguém, seu vagabundo. Eu ponho fé que meu filho vai vingar, e vai ser muito conhecido por todo o Brasil, se não pelo mundo. Por isso (agora que vem a parte boa), SAIA DESTA CASA OU EU O MATO!"

Ele, que não ousava bater de frente com minha mãe, saiu tal qual um foguete.

Desde então nunca mais tive notícias de meu pai. Crápula! Biltre! Salafrário! Vagabundo!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Homenagem ao futebol nacional

Decidi prestar homenagens
E direi agora a bola da vez.
É o maior esporte do mundo,
O meu preferido, e o de vocês.
Falarei do futebol brasileiro,
Onde eu não sou freguês.

Pode ser no Maracanã,
No Morumbi ou no Beira-Rio.
Se meu time está ganhando,
Fico feliz, vibro e sorrio.
No meu time campeão,
Meu ídolo é guerreiro bravio.

Gosto de ver Flamengo e Botafogo.
No Fla-Flu, fico sorridente.
Falmengo e Vasco é alegria
Para toda nossa gente.
Ainda existem outros clássicos
Que deixam a torcida contente.

Em Sampa a alegria é maior.
Corinthians e Palmeiras é preferência local.
Corinthians e São Paulo levam torcida
Que movimentava toda a geral.
Mas, às vezes, subo a Serra de Santos,
Onde o Alvinegro Praiano é sensacional.

Nos Pampas eu faço a festa.
O Olímpico é demais.
A torcida vai ao delírio,
Sempre querendo mais,
Com o maior clássico de lá:
O Gre-Nal de tantos carnavais.

Vou até à Cidade-Modelo,
Lá no Sul do meu país.
Falo agora de Curitiba,
Onde sempre estou feliz
Assistindo ao Atle-Tiba,
De lá o clássico raiz.

Vou ao Nordeste, na Bahia,
Onde vou conferir a prova.
Lá verei o clássico Ba-Vi,
No Barradão ou na Fonte Nova.
Estando em qualquer das torcidas,
Gozação é contra-prova.

Também fui para o Recife,
No meu querido Pernambuco.
Sou Sport, sou Santa Cruz,
Também sou Náutico, eu tô maluco.
Não tiro onda com essas torcidas.
Na gozação, apenas catuco.

Depois fui até Goiás,
Onde encontrei minha morada.
Quando vi o Goiás jogar,
Lá na minha Serra Dourada,
Logo contra o Vila Nova,
Reconheci o que era uma parada.

Dei uma subidinha, fui ao Norte.
Fui pra Belém do Pará,
Pois eu soube que, amanhã,
O Paysandu jogará
O clássico contra o Remo
No Mangueirão e estarei lá.

Em outros estados do Brasil
Descobri que o futebol é rei.
Eu acho que estava louco
E, em minhas viagens, vi que errei.
Em minhas andanças por esse Brasil
Vi uma coisa por qual me apaixonei:
Índios jogavam futebol,
E com suas jogadas toscas delirei.

Mas o que eu aprendi
É que esse esporte me satisfaz.
Eu nasci na terra certa,
Onde tem futebol demais.
Termino dizendo que sou Flamengo
E quero apenas torcer em paz.