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sábado, 9 de maio de 2009

Um amor da família

- Acorda, moleque! Levanta pra vida, vagabundo!

Assim meu pai me acordava todas as manhãs. Em resposta, eu levantava resmungando.

- Tá reclamando de quê, vadio? Você não faz merda nenhuma pra ajudar em casa!

E eu ia para o banheiro, tomar um banho e sair para trabalhar. Para meu pai eu não era um trabalhador, eu era um imprestável que vivia em casa, à toa. Mas eu não ligava.

Um belo dia meu pai provocou-me de um modo digamos mais acintoso. Ele estava revoltado, pois havia perdido seu emprego no dia anterior e estava a ponto de matar minha mãe e eu.

- Seu filho da puta, levanta dessa cama que eu não suporto mais olhar para sua cara e nem da puta da sua mãe.

Naquela hora meu sangue subiu a cabeça. Virei-me em sua direção e fuzilei-lhe um olhar.

- Não me olha assim, não! Você é um desgraçado, inútil, filho da pior puta deste mundo, que cobra muito caro por uma trepada que acabou com a minha vida!

- Pra mim já chega! Já aturei coisa demais!

- O que é que você vai fazer, seu borrabotas?

- Isso, velho desgraçado! – e desferi-lhe um soco na cara. Caímos na porrada naquele exato momento. Findada a briga e vendo que havia levado a pior (eu era carateca e me preparava para campeonatos), meu pai me expulsou de casa. Eu saí indignado, minha mãe pedindo para que não fôsse, mas ela indo atrás de mim.

Fui embora. Bati na porta de um amigo, ele me deixou ficar em sua casa. Contei minha história, ele me apoiou. Vimos uns filmes pornôs que ele tinha em casa e bebemos durante aquela noite. Meu trabalho? Esqueci.

No dia seguinte, acordei e fui trabalhar. Que merda! Não tava a fim de ir trabalhar naquele dia. A ressaca tava forte. Mas fui assim mesmo. Quando cheguei lá, uma novidade: meu chefe tinha sido transferido pra outra cidade. No lugar dele, entrou uma mulher. Cara, que mulher! Morena, um metro e oitenta, corpaço em forma... em resumo, uma deusa de ébano. Toda a firma queria trepar com ela, e comigo não era diferente. Pena que ela não dava bola pra ninguém. Isso uma semana depois do porre.

Até que um dia ela me chamou na sala dela. Mostrou uma cadeira, pediu que eu sentasse. Logo imaginei que ela queria me mandar embora, pela semana que fiquei fora da firma, pra curar aquela ressaca. Tava preocupado pra cacete. Então ela começou a falar, e falar, eu nervoso pra caramba, até que ela me perguntou por que eu tinha começado a trabalhar ali Sabia que era minha chance de segurar o trabalho, por isso fui franco.

- Vim pra cá porque meu pai não vale nada, e eu queria ganhar meu próprio dinheiro e mostrar pra ele que não precisava ficar na dependência dele. Ainda bem que não moro mais com ele. O desgraçado me botou pra fora de casa feito um cachorro, depois da gente baixar na porrada um com o outro.

- Se ele é tão ruim assim, porque você não o mata?

- O quê!? Ficou maluca!?

- Talvez. Hoje eu acordei e decidi fazer tudo que me desse vontade. Eu queria Ter matado meu pai, mas um desgraçado tomou minha frente e matou-o primeiro. Se você quiser matar o seu, faça-o antes que outro o faça. Agora pode ir. Eu tinha te chamado pra te dar sua carta de demissão, mas mudei de idéia.

- Já que não vai me dar a carta de demissão, que tal o número do seu telefone?

- Aí, você já quer demais. – E soltou uma risadinha safada, como quem convida ao outro a fazer besteiras.

Passei o resto do dia encucado com minha chefe. Ela até me deu o número! Achei ela muito louca, mas continuei a trabalhar, pensando na ideia que ela me deu. Quando acabou meu expediente, fui a uma loja de armas e comprei uma doze com uma caixa de cartuchos. Passei na casa de meu colega, deixei minhas coisas e, decidido, fui para casa de meus pais.

Quando lá cheguei, entrei em casa sem bater. Minha mãe estava dormindo na sala com uma faca no chão. Eu imaginei o pior, mas a faca estava limpa. Ela devia ter feito algum lanche noturno. Fui para a cozinha, onde naquela hora eu sabia que ele estaria lá, mas achei ele decepado no chão. Dei um berro, ‘que merda!’, e ouvi minha mãe dizerque estava tudo bem. Ela havia matado ele. E eu, assim como a louca da minha chefe, me ferrei. A desgraçada da minha mãe matou ele primeiro.

Quanto a minha chefe, demos uma bela duma trepada e estamos juntos até hoje, pra inveja dos meus colegas de firma. É como dizem: quem não chora, não mama.

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