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domingo, 11 de outubro de 2009

Dois pesos, uma medida

Era uma tarde muito agradável e Estácio avisou à família que sairia para comprar cigarros. Só não contava encontrar a turma da pelada matinal por lá. Assim que Estácio entrou no bar, Lourival tratou logo de chamá-lo.

- Estácio, meu amigo! Há quanto tempo! O que está acontecendo com você, não vai mais pras peladas...

- É, realmente, muito tempo... Só que casei. Se lembra da Alzirinha?

- Alzirinha? Aquela que no colégio ficou com o Mateus, o Zé Pinguela, o Antoninho...
- ...E com o Paulo, o Mangaba e o Tadeu. A mesma. Pois é, dei em cima, cheguei
junto e pimba! Bola sete na caçapa do meio.

- Mas como é que se deu isso?

- É o seguinte: sabe aquele forró que tinha lá perto de casa? Então, descobri que ela ia pra lá? Num belo dia, eu tava só, ela também, e chamei ela pra dançar. Ela topou, joguei um papo e... aí já viu, né?

- E o que é que rolou?

- Assumimos um rolo sério, eu com ela, tudo direitinho. O tempo foi passando, fizemos nossa casinha e juntamos nossos trapos.

- Pô, beleza! Mas o que rolou que tu sumiu lá da pelada? Vai me dizer que ela...

- É isso mesmo. Ela barrou! E tem mais: se ela descobrir, eu tô frito!

- Vamos deixar isso pra lá! Puxe uma cadeira e sente aqui com a gente. Garçom, mais um copo!

Ele queria fugir mas não conseguira. Lourival e os outros, que estavam à mesa, convenceram-no a ficar. Papo vai, papovem, eis que aparece Juninho, o filho caçula de Estácio, com mais três crianças (os filhos de Lourival).Sabendo que Juninho era o mais fofoqueiro de seus três filhos. Estácio começou a tremer. Seus amigos estranharam, principalmente Lourival.

- Que que foi, Estácio? Parece que viu assombração!

- Tá vendo aqueles três garotos vindo pra cá?

- Sim, são meus filhos com o Tacinho, o colega deles.

- Pois é, Tacinho é meu filho. Aliás, o mais caguete deles.

- Que isso! Ele é um excelente garoto, show de bola!

- Mas tem a língua solta que só.

- Tá bom... Mas porque o medo?

- Lourival, ‘cê ainda não viu que o Tácio tá com medo da Alzirinha? Se o moleque é o maior caguete, é claro que ele vai bater pra mãe! – ressaltou Antoninho, até então quieto.

Estácio teimava em negar, mas estava nítido que era medo de Juninho (ou Tacinho, como queiram) descobrí-lo ali. Medo concreto, aparente, de quem é submisso da mulher. Seus amigos zombavam, pois Estácio, na época do colégio, era o mais assediado do grupo. Segundo contam, tinha até um certo charme, mas não era um Don Juan.

- Que foi que aconteceu com o galã do Assaré? Virou cachorrinho de madama, é? – zombava Zé Pinguela.

- Que nada! Alzira virou a “peã boiadeira” e laçou o touro bravo. Aproveitou pra castrar ele e fazer dele um boi. Tadinho dele! – Antoninho voltou a zombar
E o nosso herói lá, calado na dele. Até que surge um menininho por trás de Antoninho, cutucando-o.

- Paiê, a mãe perguntou cadê o refri do almoço que o senhor falou que ia levar e até agora não apareceu?

- Manda ela pro raio que o parta, Gabriel, pô! Você não tá vendo que eu tô aqui conversando com o pessoal?

- Que que eu falo pra ela então?

- E então, Antônio, que que você fala pra sua mulher? Diz pro garoto! – desafiava Estácio.

- Deixa quieto! Fala que já tô indo!

A gargalhada foi geral. Antoninho, que tanto pregara a superioridade masculina, era um “pau-mandado” de sua esposa. Retirou-se da mesa e foi ao encontro de sua mulher. Logo depois Gabriel volta com um recado de Antoninho:

- O pai pediu pra avisar que não vai dar pra ele voltar não.

- Por quê? Tua mãe tá batendo muito nele? – perguntou Lourival.

- Inda não, mas tá falando pra caramba!!

Nova gargalhada na mesa do bar. Envolto na gargalhada e na conversa, Estácio nem percebe a aproximação de Juninho, que o cutuca por trás.

- Ué, pai, o senhor não disse que ia comprar o cigarro?

- E agora, Tácio, como é que você fica? – zomba Lourival, que não percebe que Dinorá, sua esposa, que chega por trás dele e berra:

- LÔ-RI-VAL!!!! Que que tu tá fazendo aqui, traste? Tu não ia comprar o cano pra consertar o encanamento da cozinha?

- Hein?! Que que você dizia, Lourival? – zombava Estácio.

- Psiu... Cala a boca! – sussurrava Lourival.

- Então, Lourival, vai me responder ou não?

- Dinorazinha...

- Dinorazinha é o cacete! Vambora agora! – e desceu o rolo de macarrão no pobre do Lourival. Estácio só ria da situação.

- E agora que vai me chamar de cagão, de “pau-mandado” de mulher? Todos nessa mesa tem um pé atrás quando se fala de mulher.

E a mesa aquietou-se, com a conversa tomando outros rumos. Desde aquele dia, ninguém se atreveu a discutir as atitudes familiares de cada em e nem zombar do outro por isso. Era permitido discutir de tudo, de política a futebol, menos de mulheres e família.

Antes que eu me esqueça, a alegria do nosso herói durou pouquíssimo. O filho realmente dedurou-o para a mãe, que foi buscá-lo no bar e levou-o debaixo de porrada. Mas naquela hora ninguem zombou, pois aconteceu com todos que lá estavam. Alguns revidaram, e foram denunciados por agressão às sua mulheres. Hoje, eles estão em cana.

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