Pesquisar este blog

domingo, 13 de setembro de 2009

O dia am que o ladrão de galinhas assassinou alguém - Parte 2 de 3

Continuando...

E empurrei o janota com toda a minha força pra longe, que ele chegou até a cair. Quando tranquei a porta da sala, Jurubeba viu quem estava na porta e gelou. Percebi a reação dele ao ver o janota e estranhei. Pra mim, tinha caroço naquele angu.

- Conhece o dito cujo, Jurubeba?

- Na-não co-co-conheço, na-não! – sabia que ele conhecia o janota, mas não queria dizer.

- Fique aqui mais um pouco.

- U qui u sinhô vai fazê, seu Bravo?

- Nada de mais, fique tranquilo. Apenas quero chamar o janota pro nosso papo.

- Pr-pra q-q-quê, se-se-seu Br-Br-Bravo?

- Acalme-se Jurubeba. Já vou resolver esse problema.

Fui até a porta e pedi que Alencar levasse o janota pra me esperar na minha sala. Ele começou a fazer um escândalo porque queria falar com o delegado, mas ele não estava, pois eu estava no comando da delegacia. Até que não me controlei e acertei uma porrada na cara do janota que o desacordou. Levamos ele pra sala e deixamos lá, ficando o Alencar de vigia. Voltando pra sala do interrogatório, olhei firme, com uma expressão de raiva, para o pobre infeliz.

- Começa a cantar, senão vou começar a usar meus métodos nada convencionais. Quer conhecer?

- Não, não. Tudo bem, eu conto.

- Espera que vou chamar o escrivão.

- Só conto si ocê tivé aqui sozinho.

Sem alternativa, me sentei perto dele.

- Começa a cantar, passarinho.

- Desdi ondi?

- Do começo, Jurubeba, do começo.- eu já tava ficando puto da vida.

- Tudo bem. Eu tava na rua mi preparano pra invadí a casa di dona Zefinha pra roubá as galinha como sempre faço. Di repente vi dois carro passano vuado por perto de onde eu tava. U da frente tava tentano iscapá do di trais, qui tava atirano pra tudo qui é lado.

- Tinha muita gente na rua, na hora do tiroteio?

- Num tinha não. Até qui tava diserta por dimais. Continuano, dicidi pará pra vê o qui tava aconteceno. Chegano na isquina, vi o carro da frente batido e cheio di furo. Comu num tinha ninguem na hora, fui pra vê si tinha alguem firido nu carro.
Quanu cheguei lá, um cara qui nunca vi mais gordo mi apontô uma arma na cabeça e preguntô o qui eu quiria naquela hora na rua.

- E esse cara que te apontou a arma era esse janota?

- Num era não.

- Então por que a preocupação com o janota?

- Mi dá medo vê essis pessoar di terno, pur isso. Pur falá nele, quedê?

- Tá me esperando na sala do delegado. Continue.

- Eu fiquei cum medo, pidi pra ele num atirá, qui eu era um pobre coitado qui rouba galinha pra vivê, mais ele num quis nem sabê.

- E você reconheceria esse cara?

- Achu qui sim. Mais tenho medo dele.

- Mais alguma coisa pra falar?

- Tenhu. Aqueli cara qui tava na porta.

- Sim, que que tem ele.

- Ele tava junto cum u otro cara qui matô a dona.

- E por que você assumiu o crime?

- Era o jeito qui incontrei pra passá a noite aqui, na delegacia. E num pricisei roubá galinha pra vim pra cá. Além du mais, u janota mi deu uma grana pra ficar di bico calado.

- Quanto ele te deu?

- Num foi bem uma grana, mais...

- Quanto?

- Ele mi pagou deiz cruzêro e um lanche preu assumí u crime.

- Dez Cruzeiros e um lanche? Isso pode acabar com a sua vida, sabia, Jurubeba?

- Mai eu tava cum fome, num tive iscoia. Além do mais, seu Brandão tamem tava pur lá.

- Depois a gente conversa mais. Almeida, leva o Jurubeba pra uma cela solitária.

- Mai pur quê uma solitária?

- Se eu te colocar lá, junto com o Zé Miguel ,sei que de hoje você não passa.

- Munto obrigado, seu Bravo.

- Eu é que agradeço pela ajuda.

O Almeida saiu da sala com o pobre coitado. Sabia que não podia ser ele o assassino. Mas o que eu não entendia era o porquê daquele janota estar junto com o Brandão na cena do crime. Ah, como eu queria que aquele cuzão tivesse culpa no cartório!
Adoraria jogar aquele desgraçado atrás das grades. Se bem que acho que ele também não iria se opor, pois seria a mulherzinha da cela.

Fui até a sala do delegado, onde Alencar já tava puto porque eu demorei com o Jurubeba, e aquele janota tava querendo arrumar confusão. Menos mal que o Alencar havia amordaçado o sujeitinho.

- Por que você fez isso, Alencar?

- O desgraçado tava começando a me tirar do sério, decidi botar uma mordaça na boca
dele. Algum problema?

- Não, nenhum. Agora tira, pois quero bater um papinho com o nosso amigo.

Quando Alencar tirou, o janota desandou a falar, mas não demos ouvido.

- Quando acabar nos avise. Nós temos umas questões pra resolver com o senhor.

- Não sei o que querem comigo, mas isso que vocês estão fazendo é abuso de autoridade comigo, e posso processar vocês.

Ele falou as palavrinhas mágicas que não gosto nem um pouco de ouvir. Resultado: uma porrada bem na boca do estômago, seguida de um sarcasmo.

- Aquilo não era abuso. Isso sim, é que é.

- Eu vou fuder vocês, cambada.

- Mas antes quero saber de umas coisinhas.

- Vai perguntar pra pu...

Outra porrada.

- Você tem um jeitão de mulher de malandro, hein, janota! Nunca vi gostar de apanhar assim.

- Seu desgraçado, eu vou te fuder.

- Já falei, quero te perguntar umas coisinhas. Vai colaborar conosco de livre e espontânea vontade, ou quer mais presentinhos?

Nesse momento, o viadinho do Brandão apareceu na porta.

- O doutor Mathias vai gostar de saber do seu tratamento cordial com os interessados nos casos da delegacia. Muitos já me falavam da sua cordialidade, mas doutor Mathias nunca acreditava no que eu dizia.

- Porque você nunca se deu ao respeito, sua bicha.

- Baixaria pra cima de mim, não, Bravo. Calma lá, senão te fodo aqui dentro dessa porra!

- Ui, a santa tá com raivinha! – Alencar ensaiou uns risinhos, que escondeu sob o olhar feroz de Brandão – Vai fazer o que mesmo, boneca?

- Não me provoca!

- Aliás, santa, o que é que você tá fazendo aqui se já deu seu horário, hein?

- Não é da sua conta. E por falar nisso, por que o interesse nesse caso?

- Você sabe tão bem quanto eu que o Jurubeba é um tremendo dum cagão, e que ele não teria coragem de matar uma mosca sequer.

- Mas ele estava na cena do crime, com a rama do crime.

- Isso foi o que seus cupinchas lhe disseram. Ponha essa cabeça pra funcionar uma vez que seja, porra!

- Inacreditável! Um policial que acredita mais num assassino do que nas evidências! Estamos feitos!

- Alencar, faça as honras. – E Alencar deu mais uma porrada na boca do estômago. – O Jurubeba me disse algo que eu queria confirmar com o janota, mas ele não quer cooperar comigo.

- Por isso você tem que espancar o pobre coitado?

- É pela conta e risco dele. Eu peço a cooperação educadamente, mas ninguém aceita, fazer o quê! Só me resta usar a força.

- Você é um brutamontes, isso sim! Saia da sala que eu falarei com ele.

- Ao seu dispor, madame.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário